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VIDA


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Eu ia escrever um livro.

Ele já tinha até nome.

Eu ia mandar a costureira

fazer os vestidos lindos

que a “Paola Bracho” usava na novela

e eu copiei num caderninho.

Eu ia viajar pra Índia e pra África,

andar de riquixá

e dormir sob as estrelas no deserto frio, à noite.

Eu ia investir na bolsa de valores

e construir uma casa que eu mesma desenhei.


Enquanto isso,

a vida passou e eu não percebi.

A vida passou

e eu não fui pra Machu Picchu,

não saltei de paraquedas,

não saltei da montanha escarpada direto no mar,

sentindo o sal no corpo e na boca.


Mas vivi mesmo assim.

Escrevi algumas linhas,

viajei outras viagens,

morei em muitas casas

e deixei uma parte da minha história grudada nas suas paredes .

Trouxe ao mundo pessoas que passei a amar.

Conheci outras que também amei, outras não.


A vida ainda passa por mim.

A vida ainda pulsa por mim,

cheia de filhos, trabalho, surpresas,

tristezas, decepções e alegrias.

Eu passo pela vida

e deixo um pouco de mim nos outros.

Passo pela vida, que passa ligeira...

Mesmo assim,

ainda tenho muito pra viver, fazer, sentir.


Talvez não tenha vivido todas as possibilidades,

tudo que imaginei, mas não planejei.

Talvez algumas coisas

ainda sejam necessárias e possíveis

e outras já não façam mais sentido.

Talvez eu ainda traga à vida

um pouco mais de leveza, carinho, presença...

Mais coerência e menos cobrança.

Talvez eu traga também

mais imaginação e novos sonhos...


E quando a chama se apagar

tudo o que vivi e não vivi

será a melhor lembrança

que deixarei de mim.

21/03/2022 – 54 anos.

 

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